É alvo dos primeiros fascínios. Mal se consegue sentar, qualquer criança posta na praia tem curiosidade de saber que material estranho é aquele, que tanto escorre pelos dedos, como se forma numa bola à medida das suas mãos, que é frio, quente, seco, molhado. Que sabe bem ou mal, conforme os gostos, mas não se desfaz na língua.
Não é à toa que uma caixa com areia é equipamento indispensável para quem tem jardim; horas de entretinimento garantidas num mundo onde se dá largas à imaginação.
Arriscaria a dizer que um balde, pá e ancinho – sem esquecer a peneira, onde sempre aparecem tesouros improváveis – são os brinquedos mais habituais em cada casa, sem distinção de género, gerações, classe, nacionalidade. E esquecê-los em casa, a caminho de um dia na praia, é drama pior do que não ter trocos para o gelado.
Na memória de qualquer um de nós há, de certeza, faustosos castelos, buracos feitos à borda d’água na esperança, vã, que se enchessem com a maré, túneis escavados até onde o braço chegava. Manhas que nos distraíam das horas que faltavam até à hora do banho ou nas manhãs nortenhas de vento e nevoeiro.
Na memória dos meus filhos há tudo isso, mais os barcos decorados com algas e conchas, onde são marinheiros destemidos e náufragos a lutar contra a teimosia das ondas. E ao fim do dia ainda serve para o (as)salto ao barco; ganha quem voar mais alto.
Agora que vão crescendo, as competições familiares transformaram-se em corridas de caricas, depois de elaborada pista com curvas apertadas, rampas, quedas fatais, num jogo de paciência e perícia.
E mesmo quando as marés apagam todos os vestígios resta sempre o mais importante: a cumplicidade, as gargalhadas, as memórias, as raízes que nos agarram ao essencial.
E guardam-se momentos inesquecíveis, como o dia em que encontrei uma sereia deitada na areia: o meu maior feito (juntamente com um pirata esquivo).